Projeto Matrilinhas utiliza a literatura para discutir os impactos da maternidade na vida das mulheres

Pesquisa busca dialogar sobre os afetos, mas também as problemáticas que permeiam a maternidade, debatida em rodas de leituras e oficinas, realizadas em três cidades pernambucanas

O mês de maio é uma oportunidade para refletir sobre a maternidade. Nesse contexto, o projeto “Matrilinhas: literatura e maternidades”, desenvolvido pela mãe, professora e pesquisadora e produtora cultural Karuna de Paula, faz um convite para que todos e todas, não apenas mães, reflitam sobre a representação da maternidade na literatura, com foco nas suas múltiplas formas de ser vivenciada. O projeto de pesquisa, financiado pelo edital de fomento à cultura (Funcultura-PE), busca explorar a temática por meio da literatura, com atividades presenciais e remotas, como rodas de conversas e oficinas, realizadas nas cidades do Recife, Olinda e Caruaru. Ao final das trocas, será lançada uma publicação coletiva com textos escritos por pessoas que são mães acerca de suas experiências de maternagem, com o intuito de visibilizar essas narrativas potentes e as múltiplas perspectivas de vivências da maternidade. Essa publicação será um e-book, e trará também outros resultados do que foi vivenciado. O material está previsto para ser lançado no segundo semestre deste ano.

O Matrilinhas busca compreender a vivência da maternidade a partir de textos de autoras pernambucanas, brasileiras e estrangeiras que trazem a maternidade como objeto central de suas obras. São explorados trechos de livros de Conceição Evaristo, Odailta Alves, Germana Acioly, Suelany Ribeiro, Guadalupe Nettel, Aline Bei, Priscila Obaci, Bell Puã, Ezter Liu e Cida Pedrosa, mulheres que vivenciaram esse processo, que mexe com os corpos femininos com útero, não apenas em uma esfera biológica, mas também psicossocial. A ideia é explorar a diversidade, bem como os desafios, problemáticas e afetos que a maternidade proporciona, de modo social e subjetivo.

“Não existe nada que mexa mais com uma mulher do que a maternidade. Ela nos atravessa de uma forma muito profunda e a literatura, como ferramenta cultural, nos ajuda a compreender melhor e lidar com esse processo, menos de uma ótica romantizada e mais de um ponto de vista social e das reais emoções. Essa é uma construção coletiva, que busca mostrar que maternidade não se trata apenas da reprodução dos corpos, mas de valores”, destaca Karuna de Paula.

O projeto começou a ser desenhado em 2021. Em abril deste ano tiveram início as primeiras atividades, como o encontro da poeta Regilda Simões com as mães de crianças atípicas, em Caruaru, e a discussão sobre maternidade e paternidade com alunos do núcleo do Projovem da Escola Mário Melo, no Recife. “O Matrilinhas é uma investigação plural, que dá oportunidade a mulheres dispostas a falar, escutar, refletir e escrever sobre maternidade.A maternidade se torna mais suave quando compartilhada, mesmo que seja o desejo, os medos, os cansaços e os desafios. Essas mulheres acabam se identificando na diferença e na semelhança. Portanto, acreditamos no poder da fala e da escuta como acolhimento” comenta Karuna de Paula.

O trabalho é realizado com o apoio de organizações parceiras, como associações e entidades da sociedade civil, coletivo de mulheres e gestão pública, que abraçaram o projeto. Na lista estão a Renapsi, organização com mais de 30 anos de atuação no campo da educação, o Projovem Urbano, da Prefeitura do Recife, Grupo S.O.L (Sonho, Organização e Luta), de Olinda, e a Atipicamente, associação de mães que lutam pelos direitos de pessoas com deficiência, Cooperativa de Mulheres que fazem a diferença e Movimento de Mulheres Olga Benário, sediadas em Caruaru, no Agreste de Pernambuco. No entanto, o Matrilinhas está aberto para novas instituições interessadas em receber as atividades da iniciativa.

OFICINAS

A oficina “Maternidades: literatura, escrita e potencialidades”, é gratuita e acontece entre os meses de maio e junho deste ano, com quatro encontros online, aos sábados, realizados a cada 15 dias. Durante as reuniões, serão discutidas obras literárias produzidas por mulheres mães, coletados relatos e elaborados textos a partir das experiências diversas de maternidades vivenciadas pelas participantes. As atividades vão acontecer nos dias 11 e 25 de maio e 8 e 15 de junho e são abertas para mulheres cis ou transgêneros, lésbicas, homens trans e pessoas não-binárias, que poderão compartilhar suas próprias memórias ou vivências da maternidade, seja como mãe ou como filhas, filhos ou filhes. A condução será feita pela doutora em teoria da literatura, poeta e professora Suelany Ribeiro, com a colaboração da pesquisadora, Karuna de Paula. Os interessados podem se inscrever preenchendo o formulário disponível em https://forms.gle/UUWRuWuBu6JHgYQK6 . É possível acompanhar o calendário de atividades do projeto através do Instagram do Matrilinhas (@literatura.matrilinhas).

RODAS DE CONVERSA

No mês dedicado à figura materna estão programados novos encontros com grupos sociais para discutir literatura e maternidade. A próxima roda de conversa acontece no dia 8 de maio, no Coletivo Espaço Mulher, localizado no bairro do Passarinho, no Recife. No dia 14 de maio é a vez das mulheres do Coletivo Sol, no Alto do Sol Nascente, em Olinda, lerem e discutirem sobre as múltiplas formas de vivenciar a maternidade. Encerrando o calendário de maio, um encontro com pessoas atendidas pela Amotrans-PE (Articulação e Movimento para Travestis e Transexuais de Pernambuco), no dia 22, na sede da instituição, no bairro da Boa Vista, no Recife.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *